Parabéns às autoras! Aqui fica a reprodução do trabalho levado a concurso.
“Deus ao mar o
perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu”: o mar é calma,
inspiração. É fonte de vida, de sonhos e de ideais. O mar é fonte de mistérios,
elemento que o Homem nunca dominará, não deixando, contudo, de ser tão somente
uma longa extensão de água salgada.
Com efeito, o
mar é um elo entre homens e culturas. Na época dos descobrimentos o mar
expandiu culturas. Ao navegar por mares “nunca d’antes navegados” e ao entrar
em contato com “o outro”, com novas sociedades e, por consequência, com novas
culturas, os homens partilhavam os seus costumes e trocavam novas experiências.
Foi graças ao mar que novos saberes e novos sabores atravessaram o mundo, novos
rituais foram adquiridos em lugares distantes e antigas tradições alcançaram
territórios longínquos. O mar constituiu, desde sempre, um elemento fundamental
de expansão e de união entre as pessoas. Aproxima quem está longe, porque
navegar para os mais diversos locais é “preciso” e é
possível. Ao mesmo tempo, afasta os que estão perto, levando-os para longe: “Em
tão longo caminho e duvidoso / por perdidos as gentes nos julgavam” (Luís de
Camões). Na obra Os Lusíadas, o
mar tem uma importância primordial; o mar é, aqui, na essência, o espaço de
navegação e de conquista. Essa é uma das temáticas principais da obra e é em
torno dela que a ação se desenrola. Esta obra faz-nos refletir acerca da
importância (tanta como na actualidade) que o mar teve; o mar tornou-se o
“motor” de ligação entre o(s) mundo(s), o principal difusor da fé, da língua e
dos costumes, foi fonte de riqueza, de poder, foi ilusão de sustento para o
povo.
Por outro
lado, o mar adquire também um valor simbólico, mais interpretativo do que
literal. Tendemos, nos mais diversos contextos, a associar o mar à dinâmica da
vida (é o próprio mar que se mantém em constante movimento), a um lugar de
transformações e renascimentos (tudo o que sai do mar a ele regressa). O mar
personifica possibilidades informais e realidades formais, a incerteza, a
dúvida e a indecisão. Na obra Mensagem, de Fernando Pessoa,
o mar reitera um grande poder: é-lhe dada a responsabilidade pelo destino dos portugueses.
As profundezas do mar escondem aquilo que os portugueses estão destinados a
desvendar, está no mar a frustração e a possível glória. A bravura portuguesa
foi capaz de vencer todos os perigos que dele advinham; o mar consiste, aqui,
na representação da merecida conquista, nas angústias e medos que foram
vencidos.
Enfim, o mar é
“o perigo e o abismo que espelha o céu”: assim retratado, o mar adquire a sua
simbologia essencial. É ambíguo, pois representa, por um lado, e de forma
simbólica, o destino, a glória e os receios; por outro lado, e de uma forma
mais real, é um importante fator de difusão – de cultura, de ideais, de pessoas
e carga. Todos já viram o mar, todos já sentiram a leve brisa que dele advém,
todos já imaginaram as histórias que ele carrega e os sonhos que detém.
O mar é a
fronteira que nos separa do mundo, o obstáculo figurado e o sonho realizado e,
no entanto, “ao passar um navio, fica o mar sempre igual”.