terça-feira, 9 de julho de 2013

Concurso LER O MAR - Menção Honrosa

Foi com muito prazer que recebemos a notícia de que o trabalho das alunas Luiana Alexandre e Sarah Dias, intitulado "O Mar - O real e transcendente", recebeu uma Menção Honrosa no concurso nacional "Eu Escrevo - Ler o Mar".
Parabéns às autoras! Aqui fica a reprodução do trabalho levado a concurso.


“Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu”: o mar é calma, inspiração. É fonte de vida, de sonhos e de ideais. O mar é fonte de mistérios, elemento que o Homem nunca dominará, não deixando, contudo, de ser tão somente uma longa extensão de água salgada.

Com efeito, o mar é um elo entre homens e culturas. Na época dos descobrimentos o mar expandiu culturas. Ao navegar por mares “nunca d’antes navegados” e ao entrar em contato com “o outro”, com novas sociedades e, por consequência, com novas culturas, os homens partilhavam os seus costumes e trocavam novas experiências. Foi graças ao mar que novos saberes e novos sabores atravessaram o mundo, novos rituais foram adquiridos em lugares distantes e antigas tradições alcançaram territórios longínquos. O mar constituiu, desde sempre, um elemento fundamental de expansão e de união entre as pessoas. Aproxima quem está longe, porque navegar para os mais diversos locais é “preciso” e é possível. Ao mesmo tempo, afasta os que estão perto, levando-os para longe: “Em tão longo caminho e duvidoso / por perdidos as gentes nos julgavam” (Luís de Camões). Na obra Os Lusíadas, o mar tem uma importância primordial; o mar é, aqui, na essência, o espaço de navegação e de conquista. Essa é uma das temáticas principais da obra e é em torno dela que a ação se desenrola. Esta obra faz-nos refletir acerca da importância (tanta como na actualidade) que o mar teve; o mar tornou-se o “motor” de ligação entre o(s) mundo(s), o principal difusor da fé, da língua e dos costumes, foi fonte de riqueza, de poder, foi ilusão de sustento para o povo.
Por outro lado, o mar adquire também um valor simbólico, mais interpretativo do que literal. Tendemos, nos mais diversos contextos, a associar o mar à dinâmica da vida (é o próprio mar que se mantém em constante movimento), a um lugar de transformações e renascimentos (tudo o que sai do mar a ele regressa). O mar personifica possibilidades informais e realidades formais, a incerteza, a dúvida e a indecisão. Na obra Mensagem, de Fernando Pessoa, o mar reitera um grande poder: é-lhe dada a responsabilidade pelo destino dos portugueses. As profundezas do mar escondem aquilo que os portugueses estão destinados a desvendar, está no mar a frustração e a possível glória. A bravura portuguesa foi capaz de vencer todos os perigos que dele advinham; o mar consiste, aqui, na representação da merecida conquista, nas angústias e medos que foram vencidos.
Enfim, o mar é “o perigo e o abismo que espelha o céu”: assim retratado, o mar adquire a sua simbologia essencial. É ambíguo, pois representa, por um lado, e de forma simbólica, o destino, a glória e os receios; por outro lado, e de uma forma mais real, é um importante fator de difusão – de cultura, de ideais, de pessoas e carga. Todos já viram o mar, todos já sentiram a leve brisa que dele advém, todos já imaginaram as histórias que ele carrega e os sonhos que detém.

O mar é a fronteira que nos separa do mundo, o obstáculo figurado e o sonho realizado e, no entanto, “ao passar um navio, fica o mar sempre igual”.

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